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terça-feira, 10 de maio de 2011

Análise da Obra - Dom Casmurro ~ Machado de Assis

O livro, Dom Casmurro, escrito por Machado de Assis esboça a temática que evoca particular reação do leitor, visto que o foco narrativo é totalmente voltado para a forma do texto propriamente dita. O tempo da narrativa vem a ser representado pelo psicológico, conjuntamente com o cronológico, o que deixa a obra ainda mais valiosa. O foco narrativo é simplesmente a história entre Bento Santiago e Capitu. A obra sofreu influências, embora seja pautada na tradicional problemática do adultério, Machado de Assis usa como embasamento o retorno à tragédia de Shakespeare, Othelo como uma espécie de reforma do ideal que se entende por drama.

A verossimilhança é o ponto de maior estudo e vigência do Realismo, e tem como objetivo principal retratar a realidade social por meio da ficção. No romance, Dom Casmurro, encontramos uma narrativa mais próxima das condições humanas; é o que notamos no capítulo intitulado “Um Substituto”, que apresenta a imagem de Bentinho narrando sobre a maleabilidade de José Dias, que mente ao dizer que deseja conhecer a Europa. A tratada passagem carrega valor psicológico realista, caracterizando inteiramente a postura maldosa do personagem. Outro ponto importante da questão onisciência narrativa é o viés do materialismo, onde confronta com o fato de Capitu ser pobre e Bento Santiago não. Para Capitu, Bentinho além de amor, era um projeto de vida, e por isso enfrenta preconceitos, desigualdades financeiras, etc.

Os capítulos no romance em questão apresentam construção diminuta, - o que chamamos de digressões narrativas -; e por isso, infere no grau de verossimilhança da trajetória narrada por Dom Casmurro. O enredo é partido em duas fases: a primeira dispõe das personagens Capitu e Bentinho, com catorze e quinze anos, respectivamente, apresentando a parte mais poética de todo o romance. E a segunda no casamento dos dois, onde se questiona todos os problemas sociais familiares, e também toda a retórica do adultério. Estes fatos anteriores também fazem relação ao que se conhece por onisciência narrativa.

Um dos fatores de maior importância é o que se refere ao capítulo “Olhos de Ressaca”, que contém o seguinte fragmento: “Há de dobrar o gozo aos bem-aventurados do céu conhecer a soma dos tormentos que já terão padecido no inferno os seus inimigos; assim também a quantidade das delícias que terão gozado no céu os seus afetos, aumentará as dores dos condenados do inferno. Em outro suplício do divino Dante; mas eu não estou aqui para emendar poetas”. Quando o narrador faz menção a Dante Alighieri, ele deseja proferir a significação da palavra inferno ou punição. Ainda no que se refere ao mesmo capítulo, observamos José Dias na lembrança de Bentinho, dizendo que Capitu tinha “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Este evento também faz parte da fuga da consciência e linearidade do romance, pois Bento Santiago sofrera da influência de José Dias – que é descrito como uma pessoa sem rumo na vida.

A metalinguagem é expressa no romance pelo simples fato do personagem Bentinho escrever um livro na ficção, e este estar dentro de um livro no mundo em que vivemos.

A inverossimilhança pode ser notada em dois fatos marcantes: primeiro no fato de Escobar ser um exímio nadador, e mesmo assim morrer afogado; e segundo por Bento narrar com tanta veracidade, com tanta sede de certeza e convencimento, sendo que te formação em direito, pois era bacharel em direito, e ainda um ex-seminarista; e logo tem o dom da palavra.

Claramente notamos que existem tanto registros voltados para Capitu como culpada, quando para Bento Santiago; portanto cada leitor atribui sua opinião sobre o que de fato ocorreu. Confiar ou não em Bento Santiago? A resposta vale da interpretação de cada um, e é claro do conhecimento do mundo e suas verdades.